Parto Normal Após Cesárea - PNAP (em inglês
VBAC)
O Brasil tem sido o campeão mundial de cesáreas
há alguns anos, mas nossas taxas de mortalidade continuam
alarmantes. Os países com menores taxas de cesárea
são os que apresentam menor taxa de mortalidade materna
e neonatal. Com os hospitais e médicos da rede privada
brasileira ostentando taxas de 80 a 90% de cesáreas,
é natural que cada vez mais mulheres tenham passado
por essa cirurgia e estejam se perguntando:
Depois de uma cesárea, posso ter um parto normal?
A resposta é SIM. Como regra o parto normal sempre
é mais seguro que a cesariana, uma cirurgia que têm
suas complicações já conhecidas. (Veja
artigo sobre riscos da cesárea). Existe risco de complicação
de aproximadamente 0,6 % a cada vez que uma mulher é
operada. De modo geral, a cesárea tem 4 vezes mais
risco de morte materna e 10 vezes mais risco de morte neonatal.
Essa taxa se repete no mundo todo, independente das condições
tecnológicas em que são feitas as cesáreas.
No caso do parto normal após cesárea (PNAC),
o principal risco é o de ruptura uterina. A taxa de
ruptura uterina nos PNAC é de 0,5%. Caso ocorra uma
ruptura, a mulher deve ser imediatamente operada para que
o bebê seja retirado e a abertura seja fechada. No entanto
deve-se lembrar que a ruptura uterina também ocorre
em mulheres que nunca engravidaram ou foram operadas, bem
como antes do início do trabalho de parto.
A questão primordial é: não existe parto
sem risco, não existe nada na vida sem risco. Viver
tem sua taxa de risco, mas deixar de viver não é
uma opção. Quando uma mulher (ou um médico)
opta pela cesárea para evitar a ruptura, ela não
está eliminando o risco. Ela está trocando uma
taxa por outra.
Quem então deve escolher se vai ter um parto normal
ou cesárea?
Obviamente é a mulher, pois ela é quem deverá
assumir as consequências de sua escolha. O médico
será seu parceiro nessa escolha. É quem vai
estar atento caso seja necessária uma intervenção,
nos raros casos em que isso aconteça.
Porque então os médicos dizem que depois
de cesárea é arriscado um parto normal?
Duas razões principais: a primeira é que obstetras
são cirurgiões. Bons cirurgiões. Não
são necessariamente bons parteiros e a maioria deles
tem o olhar treinado para a anormalidade e não para
a normalidade em suas mais variadas formas. A segunda é
que a maioria dos médicos privados no Brasil prefere
o parto cirúrgico de qualquer forma, tanto no primeiro
parto, com nos seguintes, a qualquer idade ou situação
de saúde. Isso é facilmente constatado pelas
pesquisas recentes e pelas atuais taxas de cesárea.
A questão médica normalmente acaba sendo: como
justificar a escolha da cesárea? E se uma mulher já
tem uma cesárea prévia, então já
há uma justificativa pronta.
Então como faço se quiser ter um parto normal?
A mulher que quer ter um parto normal depois de cesárea
na rede privada deve encontrar um médico que dê
preferência ao parto normal sempre (não só
no discurso como na prática, obviamente). (Entre em
contato com o site Amigas do Parto para obter indicações).
Na rede pública isso não é mais um problema,
pois a maioria já adota a regra de tentar o parto normal
antes de qualquer medida. O problema maior na rede pública
é o abuso no uso do "soro", ou seja, o hormônio
sintético ocitocina, como será discutido abaixo.
Toda mulher que teve cesárea pode ter um parto normal?
A imensa maioria pode, pois no Brasil a maioria das mulheres
estão passando pela cesárea sem indicações
claras e precisas. Geralmente a justificativa é "falta
de dilatação", "passou da hora",
"cordão enrolado no pescoço", todos
esses argumentos bastante discutíveis. É apenas
uma minoria que foi operada por ter problemas reais na bacia
ou outra justificativa séria. Alguns fatores devem
ser observados, no entanto. Se a operação foi
feita com aquele corte baixo, na linha do biquini, então
os riscos são de fato muito baixos. A operação
feita de cima a baixo, o corte vertical, a princício
traz um aumento do risco de ruptura. O outro ponto é
o número de cesáreas prévias. Como em
cada cirurgia o útero é cortado em um local
diferente, quanto mais cirurgias, mais cicatrizes uterinas.
No entanto a literatura cita com alguma frequência os
partos normais depois de duas, três e até quatro
cesáreas. No serviço público essas histórias
são mais comuns, pois as mulheres já chegam
no período expulsivo e não dá mais tempo
de operar, mesmo que os médicos achem indicado.
Se eu quero um Parto Normal após Cesárea,
o que devo evitar?
O mais importante é evitar o uso dos indutores e aceleradores
de parto prostaglandina e misoprostol (citotec), que aumentam
muito a força das contrações e portanto
fazem aumentar o risco de ruptura. A ocitocina também
deve ser evitada pois, embora seja menos prejudicial que os
dois primeiros medicamentos, também aumenta a força
das contrações uterinas.
É verdade que o Parto Normal após Cesárea
só pode ser feito com fórceps?
Não, essa informação está totalmente
equivocada. Muitos médicos dizem isso, e sabem que
diante dessa ameaça a maioria das mulheres opta por
uma cesárea eletiva. A verdade é que o uso do
fórceps só deve ocorrer em caso de sofrimento
fetal agudo. É um evento muito raro. Muito mais eficiente
do que o uso do fórceps é permitir que a mulher
fique semi-sentada, com o corpo o mais ereto possível,
de preferência de cócoras, para ter força
de expulsão. Infelizmente o fórceps tem sido
muito mais utilizado por causa da ansiedade da equipe do que
pela necessidade real.
Eu posso tomar anestesia em um Parto Normal após
Cesárea?
A princípio pode, mas como em qualquer parto, deve
ser usada em casos restritos, pois ela pode induzir o aparecimento
de efeitos indesejáveis como a perda da força
de expulsão, a desaceleração do trabalho
de parto, a queda da pressão arterial e outros efeitos
também sobre o bebê. No caso de se optar pela
analgesia, ela deve ser a mais fraca possível (como
em outros casos). Primeiro para afetar o menos possível
o risco de desaceleração do parto e assim não
haver necessidade de se usar ocitocina para correção
do ritmo das contrações. Em segundo lugar, caso
ocorra um raro evento de ruptura, a mulher poderá dizer
que algo aconteceu.
Se eu sofrer uma ruptura uterina, como saberei?
Nas raríssimas vezes em que ocorre uma ruptura, a mulher
percebe que algo está acontecendo. O primeiro sinal
é que a dor aumenta muito e de repente. O segundo sinal
é que entre as contrações a dor não
diminui. O terceiro é uma dor nos ombros, perto do
pescoço. Nesse caso a equipe deverá estar atenta
e efetuar a cirurgia. Convém lembrar que esses são
os sinais para qualquer ruptura uterina, em mães com
primeira gestação, mulheres que não tiveram
cesárea anterior, etc.
Como faço para entrar em contato com outras mulheres
que tiveram PNAC?
No site Amigas do Parto tem uma seção de depoimentos
só de PNAC. Cada depoimento tem o e-mail da autora
para você entrar em contato, se quiser. (www.amigasdoparto.com.br/depoimen.html#vbac)
Ana
Cris Duarte
Amigas do Parto
|